terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

QUALIDADE DE VIDA E DEPRESSÃO




Por: Carolina Maria Roma Reis, Daniela Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel


Existem muitas pesquisas que mostram que há uma relação entre qualidade de vida e relacionamento amoroso. Para entender tal relação, é necessário conhecer o conceito de qualidade de vida.
A Análise do Comportamento conceitua a qualidade de vida de forma objetiva. Beckert (2000 apud Brandão, 2002) afirma que quando pensamos em qualidade de vida, duas coisas devem ser evitadas: definições subjetivas e generalizações.
Segundo este autor, não ajudaria definir conceituar qualidade de vida como “estado de bem-estar” ou “bom êxito”, “sucesso” ou “estado subjetivo de elação”, na medida em que definições desse tipo não dizem muita coisa e acabam dificultando uma maior compreensão sobre o assunto.
As generalizações, por sua vez, também devem ser evitadas, pois o que é considerado como qualidade de vida pode ser extremamente variável de pessoa para pessoa. De acordo com o mesmo autor, deve-se considerar três aspectos na busca de uma definição válida de qualidade de vida:


*Contexto de vida atual.


Nossa experiência de vida faz com que algumas coisas percam o seu valor, enquanto outras se tornam cada vez mais desejadas. Brandão (2002) afirma que para compreender o significado de alguma coisa devemos entender primeiro o contexto no qual ela está inserida. Fora de seu contexto perderá o significado. Em geral, o que era mais desejado no passado não é o mais buscado hoje, porque o contexto mudou.
Idiossincrasias, ou seja, características pessoais de cada um
A visão de mundo, regras, desejos, medos, historia de vida de cada um. Por exemplo: alguém nascido numa família muito pobre pode dar mais significado à promoção no trabalho do que aquele que veio de família abastada.
Simplicidade
Brandão (2002) afirma que viver uma vida com qualidade é diametralmente oposto sentir-se deprimido. Dessa forma, o autor propõe que a idéia de qualidade de vida esteja em oposição à da depressão, de modo que buscando-se uma, estaremos prevenindo a ocorrência da outra.


  • Depressão: aspectos gerais


O termo depressão recebeu variadas conotações ao longo da história da Psicopatologia, diversas do significado usual que o termo recebe hoje, no ambiente clínico e fora dele (Pessotti, 2001).
Segundo Hunziker (1997 apud Gilman, 1983), na literatura médica, a depressão é um termo técnico que designa a “síndrome de desordem afetiva” ou “síndrome do humor deprimido”, sendo diagnosticada a partir de alguns sintomas, tais como: tristeza intensa, passividade, perda de interesse e prazer nas atividades cotidianas, autodepreciação, preocupação pessimista, insônia, redução do apetite ou peso, perda do interesse sexual, apatia ou agitação psicomotora, dificuldade de concentração, pensamento suicida, diminuição da energia.
Segundo Demetrio (1997), a depressão é duas vezes maior em mulheres do que em homens, independentemente do país e da cultura. As razões são desconhecidas, mas há hipóteses que atribuem essas diferenças a fatores hormonais, efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para homens e mulheres e modelo de comportamento de desamparo aprendido.
A idade de inicio apresenta dois picos de incidência aos trinta e aos cinqüenta anos de vida; 50% de todos os pacientes têm início do transtorno entre vinte e cinqüenta anos. Entretanto, pesquisas recentes sugerem que a incidência de depressão é crescente em pessoas com menos de vinte anos, o que pode estar relacionado ao aumento no uso de álcool ou outras substancias neste grupo etário. A depressão freqüentemente ocorre em pessoas que não tem uma relação interpessoal mais próxima ou que são divorciadas ou separadas. (Demetrio, 1997).



  • Análise Funcional da Depressão


Hunziker (1997 apud Ferster, 1973) analisa a depressão como uma redução na freqüência do comportamento adaptativo. Assim, a característica mais óbvia de uma pessoa deprimida estaria relacionada à perda de certos tipos de atividades, acompanhada do aumento de comportamentos de fuga/esquiva, como queixas, choros e irritabilidade. (...) “A redução na freqüência de tais atividades leva à diminuição da taxa de reforçamento e ao fortalecimento do repertório de fuga/esquiva que podemos chamar depressão (p.261). A baixa freqüência de respostas, característica da depressão, pode ser decorrente tanto da falta de reforçadores (suprimidos no ambiente), como pela insensibilidade do organismo aos reforçadores eventualmente disponíveis. Em qualquer um dos casos, contudo é o reforçamento (ou sua inexistência) o ponto central da análise. Portanto, de acordo com a visão dos analistas do comportamento, não são as características topográficas que definem o comportamento como depressivo, mas sim as suas relações funcionais. Skinner, (1996 apud Hunziker, 1997) explica que para se fazer a análise funcional da depressão, deve-se considerar que a genética, a história de vida e as contingências atuais estão presentes na determinação do indivíduo deprimido, da mesma forma como estão na determinação de qualquer comportamento. Entretanto, a determinação genética é considerada, nessa análise, apenas como responsável pela estrutura básica do organismo: sendo o comportamento a interação do organismo com o ambiente, ele automaticamente reflete a herança genética selecionada ao longo da evolução da espécie.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




BRANDÃO, Maria. Z. S. et al. Comportamento Humano – Tudo (ou quase tudo) que você precisa saber para viver melhor.1 ed. Santo André, SP: ESETec Editores Assosciados, 2002.



DEMÉTRIO, F. N. (1997). Depressão: bases anátomo-fisiológicas. Em ZAMIGNANI, D. R. (Org.). (1997). Sobre comportamento e cognição: Vol. 3. A aplicação da análise do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental no hospital geral e nos transtornos psiquiátricos. São Paulo: Arbytes



HUNZIKER, M. H. L. (1997). O desamparo aprendido e a análise funcional da depressão. Em ZAMIGNANI, D. R. (Org.). (1997). Sobre comportamento e cognição: Vol. 3. A aplicação da análise do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental no hospital geral e nos transtornos psiquiátricos. São Paulo: Arbytes.



PESSOTTI, I. (2001) Guilhardi, H. J. Depressão: tradição e moda (2001). Em Madi, M. B. B. P., Queiroz, P. P., & Scoz, M. C. (Orgs.). (2001). Sobre comportamento e cognição: Vol. 7. Expondo a variabilidade. Santo André: Esetec.



terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Relacionamentos Amorosos segundo o modelo de seleção por conseqüências

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Por Carolina Maria Roma Reis, Daniela Maria Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel

INTRODUÇÃO

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A cultura dita algumas regras para a sociedade. Dentre essas regras, a díade namoro/casamento é muito presente. Um exemplo disso é a cultura ocidental moderna, a qual não só enfatiza a importância do amor enquanto fonte de satisfação e realização, como dissemina idéias a respeito do que possa construir como um objeto de amor (Rodrigues, 1999).
Em nossa vida, a idealização de um companheiro (a) se inicia na infância.
“As crianças não recebem instruções sobre a natureza do amor; simplesmente observam aqueles que a rodeiam e, na relativa confusão de seu mundo infantil, vão formando de modo inconsciente, suas idéias a respeito do que seja o amor. No entanto, essas idéias, por mais primitivas que sejam, influenciam fortemente as expectativas do amor, que na idade adulta a pessoa venha a ter”. (Rodrigues, 1999, p. 350)

Observa-se que na cultura ocidental os temas relacionados ao amor, envolvendo escolha de parceiros e relacionamentos afetivos, são tradicionalmente discutidos sob uma perspectiva internalista. Geralmente considera-se que escolha de um parceiro está relacionada ao sentimento do amor ou da paixão, sentimentos que “brotam” do indivíduo independente de “sua vontade”, de sua história de vida ou da cultura na qual está inserido Beckert (2002, apud Brandão, 2002). Desta forma, o amor costuma ser visto como um sentimento autônomo, com vida própria, muitas vezes responsável por momentos de alegria e prazer e outras vezes responsável por sofrimento, desilusão, tristeza e depressão. Segundo Rodrigues (1999):

"O amor é basicamente dependência e necessidade de realização (...) Algumas vezes associada à emoções prazerosas, auto-realização, êxtase e felicidade, outras, motivo de desespero, loucura, sofrimento, frustração e tristeza, não é de se estranhar que amor resulte algo confuso e de certo modo indefinível para nós” (Rodrigues, 1999, pág. 350, 351).

Diferente da visão internalista das pesquisas feitas anteriormente, a Análise do Comportamento propõe uma visão externalista sobre o amor e os relacionamentos amorosos, considerando aspectos relacionados a este sentimento, tais como escolha do parceiro, regras sobre um relacionamento ideal, etc, como resultantes de aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais.
Outro aspecto a ser considerado, refere-se a possível relação existente entre relacionamento amoroso e qualidade de vida, uma vez que segundo Tarantino (2008), há uma maior incidência de doenças orgânicas e mentais entre pessoas solteiras. Para este autor, a baixa auto-estima, sentimento de solidão, alteração no humor, depressão, câncer, doenças cardiovasculares são sintomas mais freqüentes em pessoas sem relacionamento amoroso.
A Análise do Comportamento conceitua qualidade de vida de forma particular e individual, apontando que o que pode ser considerada como uma vida com qualidade para uma pessoa pode ser considerada como sem qualidade por outra pessoa. Beckert (2000 apud Brandão, 2002) propõe que a idéia de qualidade de vida está em oposição à da depressão. Buscando-se uma, estaremos prevenindo a ocorrência da outra.

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1. RELACIONAMENTOS AMOROSOS: MODELO DE SELEÇÃO POR CONSEQÜÊNCIAS

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Nós, humanos, somos seres sociais, necessitamos de convívio com nossos semelhantes, não obstante Sartre ter dito na peça Huis Clos (“Entre quatro paredes”) que o “inferno são os outros”. Segundo Rodrigues (1999), “o estado de isolamento nos provoca ansiedade e, quando ansiosos, procuramos nos aproximar de outras pessoas” (p. 330). O relacionamento amoroso é um tipo de relacionamento social. Segundo Mendonça (2001 apud Rodrigues,1999), em princípio, um relacionamento amoroso parece ser algo simples e perfeito, uma magnífica sensação de completude.
Diferente desta forma de compreender os sentimentos, como causa de comportamentos, Skinner os compreende como: “pistas para o comportamento passado e as condições que o afetaram, para o comportamento atual e as condições que o afetam e para as condições relacionadas com o comportamento futuro” (Skinner, 1991, p. 31).
Desta forma, segundo Epstein (1980 apud Skinner, 1991) entende o amor como um estado é uma disposição para agir em direção a outra pessoa de maneiras que sejam reforçadoras. Agimos para agradar e não para ferir, para ser genuíno e não para ser sedutor, mas não agimos para mudar comportamento. Sem dúvida o modificamos, uma vez que estamos mais predispostos a agir de maneiras reforçadoras quando acabamos de ser tratados dessas formas. Ação recíproca pode sobrepor-se, sem que isso implique em um contrato.
Ao explicar sua concepção sobre o amor, Skinner utiliza os gregos, os quais tinham três palavras para definir o amor: Eros, Philia e Ágape.

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a)Eros

“Eros é usualmente empregada significando amor sexual e dela, sem dúvida, em parte deriva a palavra erótica. Essa é aquela parte do fazer amor que deriva da seleção natural; nós a compartilhamos com outras espécies” (Skinner, 1991, p. 16). O Eros, portanto, estaria relacionado à filogênese. É designado para o amor erótico: desejo ou amor ardente. No entanto desejar uma mulher ou um homem é apenas desejo. É diferente de desejar esta mulher ou este homem (é um amor, ainda que possa não ser duradouro). Eros é paixão, conquista, atração, encantamento, emoção, sedução, empolgação, incertezas, dúvidas, medo. Eros é egoísmo: meus desejos, atrações.
As emoções e sensações produzidas nos primeiros contatos e na conquista precisam passar para novas etapas ou se esvairão.

"Fazer amor erótico também pode ser modificado por condicionamento operante, mas uma conexão genética sobrevive, porque a suscetibilidade ao reforçamento por contato sexual é um traço evolutivo. (Variações que fizeram com que certos indivíduos se tornassem mais suscetíveis terão aumentado sua atividade sexual e, por conseguinte, sua contribuição para o futuro da espécie)". (Skinner, 1991, p.16)
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b)Philia

Skinner (1991) postula que no Homo sapiens predomina o reforçamento sexual, que permite muito maior freqüência e variedade de formas de fazer amor.
Philia refere-se a um tipo diferente de conseqüência reforçadora e, portanto, a um estado diferente a ser sentido e denominado amor. (...) “Pessoas que “amam Renoir” tendem a ir a exposições de suas obras ou a comprá-las para poderem ficar olhando para elas” (Skinner, 1991, p. 17). Este tipo de amor se refere às coisas ou pessoas pelas quais não temos nenhum interesse erótico (Skinner, 1991).
É designado enquanto amor às coisas que nos dão prazer e alegria ao realizá-las ou vivenciá-las: gostar de música, de arte, de esporte, de tipos de comida, passeios etc. Em cada uma delas esse sentimento terá uma intensidade distinta e também dependerá do momento e contexto. Além disso, este gostar é aprendido ao longo de nossa história de vida e pode sempre ser acrescentado ou alterado. Assim, pode-se dizer que este tipo de amor estaria mais relacionado ao nível ontogenético.
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c) Ágape

Ágape deriva de uma palavra que significa ser bem-vindo ou, como define o dicionário, “ser recebido com alegria”. Ao demonstrar que estamos contentes quando uma pessoa se une a nós, reforçamos a união. A direção do reforçamento é invertida. Não é o nosso comportamento, mas o comportamento daquele que amamos, que é reforçado. O primeiro efeito é sobre o grupo. Ao demonstrar que sentimos prazer pelo que outra pessoa fez, nós reforçamos o fazer, e assim fortalecemos o grupo (Skinner, 1991, p. 17).
Skinner (1991) afirma que as principais conseqüências reforçadoras do ágape são, de fato, artificiais. Elas são inventadas por nossa cultura, e inventadas sobretudo porque é exatamente o tipo de coisa que fazemos nessas circunstâncias que ajuda a cultura a resolver seus problemas e sobreviver. “Se podemos dizer que eros é, primariamente, uma questão de seleção natural, e philia, de condicionamento operante, então ágape significa um terceiro processo de seleção: evolução cultural”. (Skinner, 1991, p. 17).



1.1 Critérios de escolha do parceiro

Pode-se dizer que as escolhas que as pessoas fazem dos seus parceiros e a manutenção da relação tem ligação direta com sua história de vida. Mendonça (2001 apud Rodrigues, 1999) afirma que tendemos a nos relacionar com modelos familiares. Homens e mulheres têm critérios de escolha diferentes. Algumas pesquisas mostram que, tanto homens quanto mulheres, têm preferências claras sobre certas características físicas do parceiro que os atraem para um relacionamento casual, sem muito comprometimento. (Buss e Schimitt apud SILVA, Maria e WEBER, Lídia, 2006, pág.58). Desta forma, a escolha de um parceiro sempre será influenciada por aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais.
Buss (1999 apud Silva e Weber, 2006) afirma que para os homens, os critérios de escolha tendem a ser mais rigorosos quanto maior o nível de envolvimento e comprometimento no relacionamento amoroso. Quando o envolvimento é superficial, as características físicas são mais levadas em consideração do que outros atributos. Já quando se espera um envolvimento maior, como um futuro casamento, eles procuram em suas parceiras características como bondade, entendimento e habilidades para cuidar dos filhos.
Kenrich, Sadalla, Groth e Trost (1990 apud Silva e Weber, 2006), afirmam que as mulheres são mais criteriosas para escolher parceiros para qualquer nível de envolvimento, pois tendem a considerar em menos intensidade os atributos físicos que os homens. Atributos como compreensão, fidelidade, companheirismo, estabilidade financeira, gentileza e inteligência são avaliados como importantes pelas mulheres em relação às suas escolhas.
Monezi (2008 apud Tarantino 2008) cita que os feromônios exalados pela pele despertam reações de atração ou de rejeição, dependendo de cada um. Ou seja, o mesmo cheiro funciona como um ímã para um e como um repelente para outro. Não se trata de ser atraído pelo perfume da moda, mas por conjuntos de moléculas exaladas pela pele. Estes feromônios sinalizam intenções e comportamentos sexuais.
De acordo com Amélio (2001), de um modo geral, existem três princípios utilizados na escolha do parceiro: homogamia, heterogamia e complementaridade. Além destes, a filogênese, ontogênese e cultura influenciam na escolha do parceiro.

-Princípio da Homogamia

Otero e Ingberman (2004 apud Silva e Weber, 2006) afirmam que as semelhanças existentes entre os parceiros levam as interações reforçadoras, auxiliando na escolha do parceiro. Os fatores mais freqüentes são: tipo de educação, valores de vida, projetos para o futuro, escolhas de atividades e interesses parecidos. As afinidades os atraem e são vistas como elementos de atratividade facilitadores para uma convivência futura.


-Princípio da Heterogamia
Otero e Ingberman (2004 apud Silva e Weber, 2006) afirmam que as diferenças existentes podem também funcionar como critério de escolhas, e serem vistas como fatores de complementação, de enriquecimento. Os mais comuns entre esses fatores são: maneira de ser, diferenças de opiniões, afazeres, gostos, interesses. Cada parceiro atua, ora como controlador, ora como suplemento do outro.


-Princípio da Complementaridade

A busca, neste caso, é por características que se complementem. Um busca no outro aquilo que não tem, um é o complemento do outro por serem diferentes.
Entretanto, pode-se observar que podem aparecer os três princípios em um relacionamento amoroso.

Otero e Ingberman (1997) descrevem ainda duas etapas da relação amorosa: o namoro e o casamento. A fase do namoro é aquela em que as pessoas explicitam suas melhores idéias, a melhor maneira de ser e de resolver questões divergentes, pois se conquistam visando uma vida futura. Os encontros são mais esporádicos e quase sempre tem por objetivo a recreação, o lazer e o prazer. As diferenças e semelhanças potencialmente conflitantes geralmente não costumam se caracterizar como problemas nessa fase.
Após o tempo de convivência do namoro, e decidirem viver juntos, o aumento do tempo compartilhado permite que os casais revelem suas características individuais, estados de humor, hábitos de vida e preferências pessoais. Beck (1988 apud Silva e Weber, 2006) diz que casar ou viver junto é bem diverso das demais formas de relacionamento vividas. Para Lazarus (1992 apud Silva e Weber, 2006), na maioria dos casamentos bem sucedidos as pessoas compartilham liberdade e espaço mútuo, contudo, nem sempre nessa fase desejam as mesmas coisas ao mesmo tempo e da mesma maneira.



1.2 A influência da Cultura nos relacionamentos amorosos: Alguns mitos a serem discutidos.

Segundo Lazarus (1992 apud Silva e Weber, 2006), a maioria dos casais se juntam cheios de sonhos e expectativas irreais. Cada cultura, em sua especificidade, transmite conhecimentos, o que alguns autores chamam de mitos relativos aos relacionamentos amorosos. Entre esses mitos podemos citar: marido e esposa são os melhores amigos; o romantismo do casal faz uma boa relação; uma relação extraconjugal destrói o casamento; marido e esposa devem fazer tudo juntos; é preciso lutar para salvar o casamento; no bom relacionamento, um tem confiança total no outro; um deve fazer o outro feliz; num bom relacionamento um pode descarregar “tudo” um no outro; os bons maridos consertam tudo em casa e as boas esposas fazem limpeza; ter um filho melhora o mal casamento; os que amam de verdade adivinham os pensamentos e sentimentos do outro;
Sternberg (1991 apud Silva e Weber, 2006) também descreve alguns mitos sobre o amor, e diz que as pessoas são influenciadas por estes conhecimentos difundidos popularmente. Muitas vezes diante dos fracassos dos relacionamentos culpam a si-mesmas, ao invés de questionar suas premissas básicas. A pesquisa científica, segundo este autor, revela que muita dessas idéias sobre o amor, que são aceitas como fato, são falhas. Acrescenta que as pessoas dificilmente comparam a realidade na qual estão inseridas com as idéias popularmente difundidas. Neste sentido, há um abismo, entre as expectativas culturais e as circunstâncias reais, o que acaba prejudicando em relação à escolha de um parceiro e a manutenção de um relacionamento amoroso satisfatório, pois, inúmeras vezes, as pessoas seguem regras falsas sobre o assunto, ficando insensíveis às contingências que se apresentam na sua vida em um determinado contexto.
Ainda segundo mesmo autor, as pessoas aceitam esses mitos sobre os relacionamentos porque aparentemente fornecem “instruções” sobre como agir nas relações amorosas. Para Sternberg (1991 apud Silva e Weber, 2006), o primeiro passo para um relacionamento inteligente é verificar a falsidade dos mitos comuns sobre o amor. O autor também cita algumas idéias, transmitidos pela comunidade verbal que podem ser causadoras de problemas nas relações: o amor conquista tudo; paixão e sexo são mais importantes num começo de um relacionamento; a “química” é essencial num relacionamento; os casais devem se amar mais do que amam qualquer outra pessoa. (p. 59).Os mitos conjugais descritos por estes autores podem, sob a perspectiva da análise do comportamento, ser percebidas como exemplos de regras que são transmitidas culturalmente ou formuladas a partir das experiências individuais funcionam como estímulos discriminativos verbais controladores de comportamentos num relacionamento amoroso. Ao ouvir histórias ou observar modelos de interações amorosas, as pessoas passam a agir conforme as contingências descritas pelas regras. Como nem sempre as contingências descritas pelas regras são estáveis, e como muitos de tais ditos populares foram formuladas em outra situação histórica e cultural é possível que tais “mitos” levem a problemas por não condizerem a realidade em que estão sendo aplicados.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMÉLIO, A. (2001). O mapa do amor: tudo que você queria saber sobre o amor e ninguém sabia responder. São Paulo: Editora Gente.

OTERO, V. R. L. (1997).Terapia comportamental de casais: da teoria à prática. Em INGBERMAN, Y. K. (Org.). (1997). Sobre comportamento e cognição: Vol. 13. São Paulo: Arbytes.

RODRIGUES, Aroldo et al.. Psicologia Social. 18. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas, SP: Papirus, 1991.

TARANTINO, Mônica. Por que nós amamos. A ciência do amor. Istoé. São Paulo, p. 44-51, Fevereiro, 2008.
WEBER, L. D. & SILVA, M. C. A. Regras e auto-regras: um estudo sobre o comportamento de mulheres no relacionamento amoroso( 2006). Em GUILHARDI, H. J.; AGUIRRE, N. C. de (Orgs.). (2006). Sobre comportamento e cognição: Vol. 18. Expondo a variabilidade. Santo André: Esetec.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A visão de homem segundo o Behaviorismo Radical


Por Carolina Maria Roma Reis, Daniela Maria Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel

O Behaviorismo radical é a filosofia da ciência do comportamento dos organismos (humanos ou não) e não estudo científico do mesmo (Skinner, 1991). Isso significa que consiste em uma reflexão sobre os temas e metas da psicologia, como, por exemplo, que possibilidades têm uma ciência do comportamento, quais métodos pode utilizar, que relevância possui para as questões humanas, dentre outras.
O Behaviorismo radical ou skinneriano possui uma concepção darwinista de homem, segundo a qual:
"O comportamento do organismo como um todo é produto de três tipos de variação e seleção. O primeiro, a seleção natural, é responsável pela a evolução das espécies e, portanto pelo comportamento das espécies; O segundo tipo de variação e seleção, o condicionamento operante, através do qual as variações no comportamento do indivíduo são selecionadas pelas características do ambiente que não são suficientemente estáveis; e a cultura envolve o terceiro tipo" (Skinner, 1991, pág.106-107).


a) Filogênese

Conforme postula Costa (2002), a filogênese refere-se à história da espécie humana, às características que foram adquiridas ao longo da evolução do homem através da seleção natural. Tais características foram selecionadas em função do valor de sobrevivência para a espécie humana, a partir de uma variação que é decorrente de mutações genéticas aleatórias. As características que a espécie humana herdou durante a evolução incluem uma estrutura anatómo-fisiológica e um repertório de funções e ações possíveis para tal estrutura.
Skinner (1990 apud Costa, 2002) afirma que o processo filogenético capacita o homem a interagir com o ambiente no qual está inserido de forma mais eficaz, na medida em que o homem já nasce com uma estrutura e um repertório preparados para adquirir comportamentos que serão imprescindíveis a sua sobrevivência num ambiente tipicamente humano. É neste sentido então que Skinner afirma que “(...) todo comportamento herdado, uma vez que o organismo que se comporta é produto da seleção natural” (p. 41).
O autor cita que apesar da seleção natural ter iniciado há milhares de anos atrás, sua ação se presentifica mesmo nos dias de hoje, pois a seleção natural se constitui enquanto processo ainda em curso. Todavia, é comum considerar-se a filogênese e a seleção natural apenas como processo que atuaram no passado, havendo, assim uma supervalorização quanto ao papel da aprendizagem. Tal atitude é no mínimo incoerente; afinal, quem fornece ao homem uma estrutura e um repertório que lhe possibilita aprender é a filogenia (Costa, 2002).


b) Ontogênese

Todo homem constrói uma história de vida que se inicia na relação com a mãe ainda via placentária e se amplia a partir do nascimento, onde tem início o processo de aprendizagem que se dá através das interações com o ambiente físico e social do qual o homem faz parte. A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que consiste, na verdade, da aquisição de repertórios comportamentais por meio dos condicionamentos reflexo e operante, chamamos ontogênese. (Costa, 2002, p. 3). Desta forma, a ontogenia diz respeito à história particular de cada indivíduo, na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira singular.
A maior parte da ontogênese é constituída pelos comportamentos operantes que são de suma importância para a adaptação do homem ao seu ambiente, na medida em que “(...) o repertório comportamental operante deve ser construído durante o tempo de uma vida” (Skinner, 1990 apud Costa, 2002). Isto possibilita uma ação mais eficaz do homem frente ao ambiente que não se encontra estável. É neste sentido que o processo de condicionamento operante corrigiu uma das limitações da filogênese, que prepara o homem para agir em um ambiente que se pareça com aquele onde ocorreu a seleção natural.
Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner descreve o condicionamento operante da seguinte forma:


"Através do condicionamento operante, o meio ambiente modela o repertório básico com o qual mantemos o equilíbrio, andamos, praticamos esporte, manejamos instrumentos e ferramentas, falamos, escrevemos, velejamos um barco, dirigimos um automóvel ou pilotamos um avião. Uma modificação no ambiente – um novo automóvel, um novo amigo, um novo campo de interesse, um novo emprego, uma nova residência – pode nos encontrar despreparados, mas o comportamento ajusta-se rapidamente assim que adquirirmos novas respostas e deixarmos de lado as antigas" (Skinner, 1991, p. 74).

O Condicionamento operante é interpretado através do paradigma SD – R – SR , também conhecido por tríplice contingência.

"Uma contingência tríplice especifica (1) uma situação presente ou antecedente que pode ser descrita em termos de estímulos chamados discriminativos pela função controladora que exercem sobre o comportamento; (2) algum comportamento do indivíduo que, se emitido na presença de tais estímulos discriminativos, tem como conseqüência (3) alguma alteração no ambiente, que não ocorreria se tal comportamento não ocorresse". (Todorov, 1985 apud Costa 2002, p. 75)

Isto significa que, na presença de um estímulo específico (SD = Estímulo discriminativo) quando uma resposta (R) é emitida, esta produz uma conseqüência que retroage sobre o organismo aumentando – se for seguida por um estímulo reforçador (S+) ou diminuindo – se for seguida por um estímulo aversivo (S-), a probabilidade da emissão futura desta resposta em situações semelhantes.

c) Cultura

O homem também é produto das práticas culturais específicas do contexto social no qual está inserido. Tais práticas tiveram origem com o desenvolvimento do comportamento verbal do homem, o que possibilitou muitos ganhos para a espécie humana.
Skinner (1984, apud Costa, 2002) define a cultura como “as contingências de reforçamento social mantidas por um grupo. Como tal, evolui de sua própria maneira, como novas práticas culturais que contribuem para a sobrevivência e elas são, por isso, perpetuadas” (Skinner, 1984, p. 221; apud Costa, 2002, p. 12-13). Segundo o autor citado, uma prática cultural possivelmente tem início quando exerce um efeito reforçador sobre um único indivíduo. Entretanto, só evolui enquanto prática cultural propriamente dita quando o efeito reforçador não mais se restringe a um único organismo, mais se estende a um grupo. Assim: “uma cultura evolui quando práticas originadas dessa forma contribuírem para o sucesso da prática do grupo em resolver seus problemas” (Skinner 1981, p. 478 apud Costa, 2002, p. 13).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


COSTA, M. N. (2002). Terapia analítico-comportamental: dos fundamentos filosóficos á relação com o modelo cognitivista. Santo André: ESETec Editores Associados.

SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas, SP: Papirus, 1991.
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Relacionamento Amoroso: breve histórico sobre as relações amorosas

Por: Carolina Maria Roma Reis, Daniela Maria Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel

Segundo Nogueira (2006), as mulheres nos séculos XIX e XX, eram utilizadas como “moeda” de troca, em acordos familiares. Nava (1983 apud Nogueira, 2006) afirma que o casamento poderia ser realizado entre pessoas com comportamentos e gênios completamente opostos. Geralmente eram uniões seladas ora pelo julgo de um ou outro cônjuge.
Nogueira (2006) afirma que os pais desejavam traçar o caminho de seus filhos, principalmente de suas filhas, que, segundo as teorias da época, eram incapazes de gerir sua vida sem o auxílio de um homem. Por outro lado, há uma tendência cada vez maior em se romper com arranjos matrimoniais e desafiar a autoridade paterna, em defesa do ideal romântico do casamento por amor.
Ainda segundo a mesma autora, o amor era a motivação para jovens adolescentes enfrentarem a tutela dos pais e tentar constituir uma nova família. No século XX, ele passa a ser considerado um elemento importante nas uniões matrimoniais.
De acordo com as pesquisas de Nogueira (2006), a importância do casamento para estes grupos era preservar e ampliar seu patrimônio, garantindo sua posição social e ampliando seu poder político. Sobre os casamentos consangüíneos, a autora afirma que:

"Esses casamentos, além de reforçarem o patrimônio da família e afastarem o “fantasma” da falência, permitiam a solidificação das relações, que não passavam somente por um contrato comercial entre devedor e seus credores, como um negócio de família, cuja fortuna e sangue não se dispersavam. Como os esposos, graças ao pátrio poder, possuíam a autoridade de chefes de família, administravam as heranças de suas esposas, possibilitando cada vez mais, o fortalecimento do patrimônio familiar." (p. 01).


Já nos casos de arranjos baseados entre alianças realizadas entre família importantes, temos as relações de reciprocidade sendo a maior motivação para o casamento. Segundo Oliveira (2005), por esta prática, obtinha-se a consolidação e preservação do status social de grupos pertencentes à elite. Era uma forma de reprodução social, na qual bens materiais e simbólicos circulavam entre famílias importantes e garantiam a perpetuação de seu patrimônio político e social. No caso das famílias mais simples, os arranjos matrimoniais eram menos ambiciosos, mas também podiam ser baseados em relações de reciprocidade. Os pais buscavam para suas filhas casamentos nos quais elas trariam para a família um bem, material ou imaterial, que representasse um investimento futuro no crescimento social e/ou econômico do grupo familiar. Daí pode-se supor que o rompimento de arranjos ou quaisquer outros fatores que comprometiam o futuro casamento de uma moça representava forte golpe na organização familiar. Mas entre os pobres havia uma certa flexibilidade que permitia às moças buscar o sonho dourado da felicidade ao lado de seu amado.
Conforme relata Trigo (1989), desde o século XX até as datas atuais, a escolha de um parceiro passou a ser, pelo menos na teoria, um tema livre e que tem como base o amor. A valorização do amor baseia-se na legitimidade que ele dá ao matrimônio e na estabilidade e permanência que ele adquire como construtor do espaço doméstico.A partir deste histórico podemos observar que, há décadas, a escolha de um parceiro para relacionamento amoroso só é considerada legítima se ocorrer em função do “amor”, sentimento que guiaria os apaixonados para uma “escolha mais acertada”, que lhes traria felicidade. Nesta perspectiva, o “amor” é visto como um sentimento autônomo, que surge à revelia dos apaixonados, de forma independente das relações que o indivíduo estabelece com seu ambiente no decorrer de sua história de vida. Entretanto, esta visão de amor é incompatível com a proposta skinneriana, que não considera sentimentos como causa de comportamentos, explicando ambos (sentimentos e comportamentos) como resultantes da interação que o indivíduo estabelece com seu ambiente filogenético (história da espécie), ontogenético (história de vida) e cultural.


REFERÊNCIAS:


NOGUEIRA, Natania A. da Silva. A família mineira: impressões e narrativas (Juiz de Fora, 1850-1920). In: Anais do III Simpósio Nacional de História Cultural: mundos da Imagem – do texto ao visual. Florianópolis, UDSC, 2006.

OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de. Negócios de família:mercado, terra e poder na formação da cafeicultura mineira. 1780-1870. Bauru – SP: Edusc; Juiz de Fora, MG; FUNALFA, 2005.

TRIGO, Maria Helena Bueno. Amor e casamento no século XX. In. D´INCAO, Maria Helena (org.) Amor e família no Brasil – SP: Contexto, 1989, p. 88-90.