sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A visão de homem segundo o Behaviorismo Radical


Por Carolina Maria Roma Reis, Daniela Maria Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel

O Behaviorismo radical é a filosofia da ciência do comportamento dos organismos (humanos ou não) e não estudo científico do mesmo (Skinner, 1991). Isso significa que consiste em uma reflexão sobre os temas e metas da psicologia, como, por exemplo, que possibilidades têm uma ciência do comportamento, quais métodos pode utilizar, que relevância possui para as questões humanas, dentre outras.
O Behaviorismo radical ou skinneriano possui uma concepção darwinista de homem, segundo a qual:
"O comportamento do organismo como um todo é produto de três tipos de variação e seleção. O primeiro, a seleção natural, é responsável pela a evolução das espécies e, portanto pelo comportamento das espécies; O segundo tipo de variação e seleção, o condicionamento operante, através do qual as variações no comportamento do indivíduo são selecionadas pelas características do ambiente que não são suficientemente estáveis; e a cultura envolve o terceiro tipo" (Skinner, 1991, pág.106-107).


a) Filogênese

Conforme postula Costa (2002), a filogênese refere-se à história da espécie humana, às características que foram adquiridas ao longo da evolução do homem através da seleção natural. Tais características foram selecionadas em função do valor de sobrevivência para a espécie humana, a partir de uma variação que é decorrente de mutações genéticas aleatórias. As características que a espécie humana herdou durante a evolução incluem uma estrutura anatómo-fisiológica e um repertório de funções e ações possíveis para tal estrutura.
Skinner (1990 apud Costa, 2002) afirma que o processo filogenético capacita o homem a interagir com o ambiente no qual está inserido de forma mais eficaz, na medida em que o homem já nasce com uma estrutura e um repertório preparados para adquirir comportamentos que serão imprescindíveis a sua sobrevivência num ambiente tipicamente humano. É neste sentido então que Skinner afirma que “(...) todo comportamento herdado, uma vez que o organismo que se comporta é produto da seleção natural” (p. 41).
O autor cita que apesar da seleção natural ter iniciado há milhares de anos atrás, sua ação se presentifica mesmo nos dias de hoje, pois a seleção natural se constitui enquanto processo ainda em curso. Todavia, é comum considerar-se a filogênese e a seleção natural apenas como processo que atuaram no passado, havendo, assim uma supervalorização quanto ao papel da aprendizagem. Tal atitude é no mínimo incoerente; afinal, quem fornece ao homem uma estrutura e um repertório que lhe possibilita aprender é a filogenia (Costa, 2002).


b) Ontogênese

Todo homem constrói uma história de vida que se inicia na relação com a mãe ainda via placentária e se amplia a partir do nascimento, onde tem início o processo de aprendizagem que se dá através das interações com o ambiente físico e social do qual o homem faz parte. A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que consiste, na verdade, da aquisição de repertórios comportamentais por meio dos condicionamentos reflexo e operante, chamamos ontogênese. (Costa, 2002, p. 3). Desta forma, a ontogenia diz respeito à história particular de cada indivíduo, na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira singular.
A maior parte da ontogênese é constituída pelos comportamentos operantes que são de suma importância para a adaptação do homem ao seu ambiente, na medida em que “(...) o repertório comportamental operante deve ser construído durante o tempo de uma vida” (Skinner, 1990 apud Costa, 2002). Isto possibilita uma ação mais eficaz do homem frente ao ambiente que não se encontra estável. É neste sentido que o processo de condicionamento operante corrigiu uma das limitações da filogênese, que prepara o homem para agir em um ambiente que se pareça com aquele onde ocorreu a seleção natural.
Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner descreve o condicionamento operante da seguinte forma:


"Através do condicionamento operante, o meio ambiente modela o repertório básico com o qual mantemos o equilíbrio, andamos, praticamos esporte, manejamos instrumentos e ferramentas, falamos, escrevemos, velejamos um barco, dirigimos um automóvel ou pilotamos um avião. Uma modificação no ambiente – um novo automóvel, um novo amigo, um novo campo de interesse, um novo emprego, uma nova residência – pode nos encontrar despreparados, mas o comportamento ajusta-se rapidamente assim que adquirirmos novas respostas e deixarmos de lado as antigas" (Skinner, 1991, p. 74).

O Condicionamento operante é interpretado através do paradigma SD – R – SR , também conhecido por tríplice contingência.

"Uma contingência tríplice especifica (1) uma situação presente ou antecedente que pode ser descrita em termos de estímulos chamados discriminativos pela função controladora que exercem sobre o comportamento; (2) algum comportamento do indivíduo que, se emitido na presença de tais estímulos discriminativos, tem como conseqüência (3) alguma alteração no ambiente, que não ocorreria se tal comportamento não ocorresse". (Todorov, 1985 apud Costa 2002, p. 75)

Isto significa que, na presença de um estímulo específico (SD = Estímulo discriminativo) quando uma resposta (R) é emitida, esta produz uma conseqüência que retroage sobre o organismo aumentando – se for seguida por um estímulo reforçador (S+) ou diminuindo – se for seguida por um estímulo aversivo (S-), a probabilidade da emissão futura desta resposta em situações semelhantes.

c) Cultura

O homem também é produto das práticas culturais específicas do contexto social no qual está inserido. Tais práticas tiveram origem com o desenvolvimento do comportamento verbal do homem, o que possibilitou muitos ganhos para a espécie humana.
Skinner (1984, apud Costa, 2002) define a cultura como “as contingências de reforçamento social mantidas por um grupo. Como tal, evolui de sua própria maneira, como novas práticas culturais que contribuem para a sobrevivência e elas são, por isso, perpetuadas” (Skinner, 1984, p. 221; apud Costa, 2002, p. 12-13). Segundo o autor citado, uma prática cultural possivelmente tem início quando exerce um efeito reforçador sobre um único indivíduo. Entretanto, só evolui enquanto prática cultural propriamente dita quando o efeito reforçador não mais se restringe a um único organismo, mais se estende a um grupo. Assim: “uma cultura evolui quando práticas originadas dessa forma contribuírem para o sucesso da prática do grupo em resolver seus problemas” (Skinner 1981, p. 478 apud Costa, 2002, p. 13).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


COSTA, M. N. (2002). Terapia analítico-comportamental: dos fundamentos filosóficos á relação com o modelo cognitivista. Santo André: ESETec Editores Associados.

SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas, SP: Papirus, 1991.
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Relacionamento Amoroso: breve histórico sobre as relações amorosas

Por: Carolina Maria Roma Reis, Daniela Maria Duailibe Ferreira e Milena Sarney Costa Maciel

Segundo Nogueira (2006), as mulheres nos séculos XIX e XX, eram utilizadas como “moeda” de troca, em acordos familiares. Nava (1983 apud Nogueira, 2006) afirma que o casamento poderia ser realizado entre pessoas com comportamentos e gênios completamente opostos. Geralmente eram uniões seladas ora pelo julgo de um ou outro cônjuge.
Nogueira (2006) afirma que os pais desejavam traçar o caminho de seus filhos, principalmente de suas filhas, que, segundo as teorias da época, eram incapazes de gerir sua vida sem o auxílio de um homem. Por outro lado, há uma tendência cada vez maior em se romper com arranjos matrimoniais e desafiar a autoridade paterna, em defesa do ideal romântico do casamento por amor.
Ainda segundo a mesma autora, o amor era a motivação para jovens adolescentes enfrentarem a tutela dos pais e tentar constituir uma nova família. No século XX, ele passa a ser considerado um elemento importante nas uniões matrimoniais.
De acordo com as pesquisas de Nogueira (2006), a importância do casamento para estes grupos era preservar e ampliar seu patrimônio, garantindo sua posição social e ampliando seu poder político. Sobre os casamentos consangüíneos, a autora afirma que:

"Esses casamentos, além de reforçarem o patrimônio da família e afastarem o “fantasma” da falência, permitiam a solidificação das relações, que não passavam somente por um contrato comercial entre devedor e seus credores, como um negócio de família, cuja fortuna e sangue não se dispersavam. Como os esposos, graças ao pátrio poder, possuíam a autoridade de chefes de família, administravam as heranças de suas esposas, possibilitando cada vez mais, o fortalecimento do patrimônio familiar." (p. 01).


Já nos casos de arranjos baseados entre alianças realizadas entre família importantes, temos as relações de reciprocidade sendo a maior motivação para o casamento. Segundo Oliveira (2005), por esta prática, obtinha-se a consolidação e preservação do status social de grupos pertencentes à elite. Era uma forma de reprodução social, na qual bens materiais e simbólicos circulavam entre famílias importantes e garantiam a perpetuação de seu patrimônio político e social. No caso das famílias mais simples, os arranjos matrimoniais eram menos ambiciosos, mas também podiam ser baseados em relações de reciprocidade. Os pais buscavam para suas filhas casamentos nos quais elas trariam para a família um bem, material ou imaterial, que representasse um investimento futuro no crescimento social e/ou econômico do grupo familiar. Daí pode-se supor que o rompimento de arranjos ou quaisquer outros fatores que comprometiam o futuro casamento de uma moça representava forte golpe na organização familiar. Mas entre os pobres havia uma certa flexibilidade que permitia às moças buscar o sonho dourado da felicidade ao lado de seu amado.
Conforme relata Trigo (1989), desde o século XX até as datas atuais, a escolha de um parceiro passou a ser, pelo menos na teoria, um tema livre e que tem como base o amor. A valorização do amor baseia-se na legitimidade que ele dá ao matrimônio e na estabilidade e permanência que ele adquire como construtor do espaço doméstico.A partir deste histórico podemos observar que, há décadas, a escolha de um parceiro para relacionamento amoroso só é considerada legítima se ocorrer em função do “amor”, sentimento que guiaria os apaixonados para uma “escolha mais acertada”, que lhes traria felicidade. Nesta perspectiva, o “amor” é visto como um sentimento autônomo, que surge à revelia dos apaixonados, de forma independente das relações que o indivíduo estabelece com seu ambiente no decorrer de sua história de vida. Entretanto, esta visão de amor é incompatível com a proposta skinneriana, que não considera sentimentos como causa de comportamentos, explicando ambos (sentimentos e comportamentos) como resultantes da interação que o indivíduo estabelece com seu ambiente filogenético (história da espécie), ontogenético (história de vida) e cultural.


REFERÊNCIAS:


NOGUEIRA, Natania A. da Silva. A família mineira: impressões e narrativas (Juiz de Fora, 1850-1920). In: Anais do III Simpósio Nacional de História Cultural: mundos da Imagem – do texto ao visual. Florianópolis, UDSC, 2006.

OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de. Negócios de família:mercado, terra e poder na formação da cafeicultura mineira. 1780-1870. Bauru – SP: Edusc; Juiz de Fora, MG; FUNALFA, 2005.

TRIGO, Maria Helena Bueno. Amor e casamento no século XX. In. D´INCAO, Maria Helena (org.) Amor e família no Brasil – SP: Contexto, 1989, p. 88-90.